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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Saber usar a liberdade

« (...) Essa monarquia acostumando o povo a servir, habituando-se à inércia de quem espera tudo de cima, obliterou o sentimeno instintivo da liberdade, quebrou a energia das vontades, adormeceu a iniciativa; quando mais tarde lhe deram a liberdade, não a compreendeu: ainda hoje a não compreende, nem sabe usar dela.
(...) Entre o senhor rei de então e os senhores influentes de hoje, não há tão grande diferença: para o povo é sempre a mesma a servidão. Éramos mandados, somos agora governados: os dois termos quase se equivalem. SE a velha monarquia desapareceu, conservou-se o velho espírito monárquico: é quanto basta para não estarmos muito melhores que os nossos avós. Finalmente. do espírito guerreiro da nação conquistadora, herdámos um invencível horror ao trabalho e um íntimo desprezo pela indústria. Os netos dos conquistadores de dois mundos podem, sem desonra, consumir no ócio o tempo e afortuna ou mendigar pelas secretarias um emprego: o que não podem sem indigniddae é trabalhar! Uma fábrica, uma oficina, uma exploração agrícola ou mineira são coisas impróprias da nossa fidalguia. Por isso as melhores indústrias nacionais estão nas mãos dos estrangeiros, que com elas se enriquecem e se riem das nossas pretensões. Contra o trabalho manual, sobretudo, é que é universal o preconceito: parece-nos um símbolo servil! Por ele sobem as classes democráticas em todo o mundo e se engrandecem as nações; nós preferimos ser uma aristocracia de pobres ociosos, a ser uma democracia própera de trabalhadores.
(...)
somos uma raça descaída por ter rejeitado o espírito moderno: regenerar-nos-emos abraçando francamente esse espírito. O seu nome é Revolução: revolução não quer dizer guerra, mas sim paz; não quer dizer licença, mas sim, ordem, ordem verdadeira pela verdadeira liberdade.»

Excertos do Discurso proferido por Antero de Quental, numa sala do Casino Lisbonense, em Lisboa, no dia 27 de Maio de 1871
in "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares", Antero de Quental

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