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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Uma pessoa deixa-se morrer

Oitenta anos.
Lúcidos.
O coração cansadote.
A respiração difícil às vezes.
O caminhar muito trôpego.
O coração cada vez mais cansadote.
A tensão muito baixa.
Hospital...
... para ter a certeza de que se faz tudo o que se pode fazer nesta vida.
O Homem não está incontinente, quer ir pelo seu pé à casa de banho.
"Para seu conforto, pomos-lhe uma fralda" ou para não terem que o acompanhar de cada vez à casa de banho?
Primeiro choque.
De manhã, despem-no sem pudor, sem privacidade, na enfermaria, da cinta para baixo, "nu em pêlo como vim ao mundo" para depois o levarem para o lavar. Uma indignidade. Uma tristeza.
Segundo choque.
Tratam-no por tu. Porquê? Para quê?
A comida é uma pasta: se , ao menos, não tivesse sabor! mas é intragável.
Quis sair do cadeirão para a cama, sem incomodar, não foi capaz de se erguer sozinho, foi de rastos, sem poder , sem querer chamar ninguém.
Ataram-no à cama. Para "sua" segurança.
Lúcido. O Homem de oitenta anos...
Quem quer viver assim?
Deixam-se morrer num qualquer hospital, - haverá excepções! há sempre , mas não lhe tocou a ele - os homens velhos de oitenta anos e mais.

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