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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

José Saramago e Caim

Se a liberdade de expressão significasse abrirmos a boca ou escrever para estarmos todos sempre de acordo, sem ofender nada nem ninguém, numa placidez única de opiniões, numa espécie de consenso universal, para que precisávamos nós de liberdade de expressão? Estaríamos todos amordaçados a um único pensamento. De quem? Em nome de quê?

Um dia, houve quem instituísse , já muito depois da Inquisição, um novo index para lá colocar "O Evangelho segundo Jesus Cristo"; hoje, em nome da defesa de certos valores de certas cabeças (que não são os de todos) , recomenda-se a Saramago a auto-exclusão da nacionalidade portuguesa.
Nem sequer pestanejam com o ridículo da proposta...

4 comentários:

vieira calado disse...

Num país ridículo...

que se poderia esperar?

Porque não pedem aos americanos que levem umas dúzias de ladrões do mais alto calibre, para a prisão de Alcatraz?...

Por que não pedem esse exílio?

Cumprimentos meus

Aires Montenegro disse...

Sobre o caso deixei um comentário no meu blog.
Estive no lançamento, e em outras actividades, e concluí quatro coisas:
a liberdade de expressão ainda incomoda muita gente neste país; as pessoas preocupam-se com o que se diz e não com a obra em si, que quase ninguém lê; o que se diz tem a ver com marketing - e a isso já o Saramago respondeu, e bem; e depois há uns palhaços que colocámos no Parlamento Europeu (ainda vai com Maiúsculas!) e que não lêem nada, não sabem nada, não são nada e deitam bacoradas que fazem envergonhar qualquer cristão ou anti-cristão ou muçulmano, desde que pense: aquele que disse ter vergonha de ser do mesmo país do Saramago!
E há uma última: hoje ninguém está interessado na boa escrita - isso foi-me dito por editores, em Penafiel, com responsabilidades - hoje o que interessam são livros que vendam!!! É triste...

Raul Martins disse...

Mas a minha liberdade de expressão não não pode conferir-me autoridade para ridicularizar e ofender os outros. Uma coisa é podermos expressar a nossa opinião mas daí até à ofensa... Há limites.
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E será que o facto de Saramago ser "um" Nobel lhe confere autoridade para ridicularizar crenças e confissões?
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E estou de acordo com o Aires quanto ao seu último parágrafo.

DEANA BARROQUEIRO disse...

As histórias do Livro do Genesis, do Antigo Testamento, constituem, salvo raras excepções, um manual de maus exemplos, onde os vícios e crimes dos patriarcas e outras figuras "exemplares" masculinas são sempre justificados e perdoados.
A maior parte dos católicos nunca leu a Bíblia, leu quando muito excertos e resumos ou ouviu-os na missa, se frequenta a Igreja (o que poucos fiéis fazem). Eu tive de ler não só esse livro, como quase todos os que compõem o Antigo Testamento para fazer os meus contos que se baseavam nas histórias do Livro do Genesis que, por sua vez, aproveita e recria os mitos e lendas da Mesopotâmia, Egipto, etc.
Essas histórias exemplares são contos de uma terrível crueldade contra os mais fracos, uma tirania terrível quer sobre as mulheres, as principais vítimas - tratadas pior que animais,aviltadas e subjugadas por velhos libidinosos que falam em nome de Deus - quer sobre quem se opõe a esse povo dito escolhido.
Estupro, incesto, pedofilia, prostituição das próprias esposas (Abraão vende Sara por 2 vezes, dizendo que ela é sua irmã). Estudei a fundo a Antiguidade pré-clássica para escrever a história dessas mulheres, sem o fumo dos milagres, mas procurando recriar a vida dessas tribos de pastores analfabetos, primitivos e supersticiosos, tendo como fonte a edição monumental da Bíblia dos Frades Capuchinhos, aproveitando as suas notas científicas e explicações.
E, não há dúvida que o Deus do Antigo Testamento é tão cruel e tão sanguinário como Baal ou qualquer outra divindade da mesma época. Só quem nunca leu a Bíblia é que poderá afirmar o contrário.

Deana Barroqueiro
http://deanabarroqueiro.blogspot.com